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Carta para você #8

28 de novembro de 2021


Belo Horizonte, 28 de novembro de 2021, 08:36.


Oi, meu bem! Como você está? Eu espero e torço para que bem.


Não sei como começar essa carta. Não sei o que escrever. Não sei o que sentir diante da noite intensa que eu tive. Acabei de acordar de um sonho do qual me recordo de poucas coisas. Minha cabeça está uma loucura e acho que nunca enfrentei uma crise existencial tão pesada quanto essa! Parecia que eu protagonizava uma série cheia de dramas, traições e reviravoltas. Nesse exato momento, estou me questionando se é por conta do reboot de Gossip Girl que estou viciada. Assisti todos os episódios sem parar. Eu me envolvi com cada trama ali. Chorei com cada momento ruim como se estivesse dentro da série e fosse uma das protagonistas. Sei que você nunca foi muito chegado a séries, contudo, como você sabe, eu sou a maior fã e digo que esse é um dos meus maiores hobbies.


Nunca conversamos sobre isso, sobre meu passado, sobre minhas versões que não existem mais. Todavia, nem sempre fui uma viciada em séries, mas sempre fui fã de dramas adolescentes e de romances impossíveis. Após ver High School Musical 3 no cinema quando eu tinha uns nove anos, decidi que queria fazer parte daquilo, que queria escrever roteiros e que queria produzir histórias que levassem algum tipo de conforto para alguém. Lembro do dia que eu cheguei correndo pela garagem, pulei no colo da minha mãe e gritei “mamãe!!! eu vou fazer cinema!!!”. Ela não entendeu nada, porém cinco anos se passaram e a filha continuava firme na sua decisão. Apesar dos comentários contrários à minha decisão, meus pais nunca me impediram de correr atrás do meu sonho e confesso para você que a faculdade de cinema foi a minha maior decepção.


Entrei em fevereiro de 2017 e dois meses depois, eu já queria jogar tudo para os ares, porque percebi que ali não era o meu lugar. Eles não iriam me ensinar a editar vídeos, a escrever roteiros, ou a gravar momentos que fossem importantes. Além disso, eu ainda era muito conservadora, ou realmente não entendi as realidades dos meus colegas de sala. Acredito que nunca conversamos sobre isso, entretanto, o primeiro período de faculdade foi extremamente assustador ao ponto de eu chegar todos os dias chorando para casa. Falei muitas coisas nas quais me arrependo, não aprendi nada durante cinco meses e carrego a culpa de ter feito meu pai gastar dinheiro à toa. Aqueles meses me parecem uma outra realidade, porém, em alguns momentos, penso que eu deveria ter passado por tudo aquilo para me tornar uma pessoa melhor.


Eu era uma filhinha de papai, mimada e prepotente. Formei no Ensino Médio dando graças a Deus e ao Universo pelo milagre, porque os momentos que passei ali me consumiram de um jeito surreal. Minha maior decepção era saber que aqueles anos não foram tão mágicos quanto nos filmes e acredito que foi por isso que me apeguei ainda mais à ideia de escrever histórias. Eu queria escrever histórias onde os personagens excluídos tinham voz e contavam suas versões, suas dores e seus tramas dentro de sistemas educacionais, ou, então, queria contar história de romance que começaram com uma simples troca de olhares em uma das aulas do colégio. Pobre Emilly, tão iludida, tão ingênua e tão inserida dentro dos próprios contos de fada... minha mãe deveria ter tomado meus livros de ficção e romance quando eu era uma adolescente, porque olha... teria me ajudado em muita coisa até.


Bom, penso que também nunca te contei sobre a escolha que tomei depois. Transferi para o curso de publicidade e propaganda, outro grande arrependimento que carrego. Não fiz muitos anos, porque as pessoas me olharam torto desde o primeiro dia. Não conversava muito com receio das pessoas acharem que eu era babaca como foi em cinema. Não abria a cara para ninguém e só pisava na aula, porque me obrigavam. Às vezes penso que se o curso todo fosse em EAD teria sido mais fácil, no entanto, eu seria uma profissional totalmente frustrada agora. Descobri que eu amava design, mas não me ensinariam isso e eu teria que fazer cursinhos por fora. Intensifiquei meu amor pela arte, mas percebi que não queria trabalhar com isso durante toda a minha vida. Fiquei completamente obcecada por fotografia, mas observei que seguir a carreira de diretora de fotografia era muito mais difícil do que eu imaginei.


Dessa forma, por mais que a minha tia conhecesse um diretor de cinema que mora no Canadá e que me ofereceu um estágio de seis meses, não me arrependo nem um pouco de ter trocado para o curso de Relações Internacionais. Eu me encontrei nesse curso, meu bem. Eu percebi que nada era impossível e que é muito bom termos uma satisfação pessoal com uma escolha que tomamos. Eu me interessei por quase todos os assuntos depois de um tempo, contudo, sou extremamente grata por ter me descoberto nos últimos quatro anos. Diante disso, eu queria dizer que entendia quando você dizia que não estava satisfeito com o seu curso, que não era isso que você queria e que você tinha medo de não conseguir a transferência. Acredite, nunca sou de falar sobre determinados assuntos, mas compreendo quase que perfeitamente o que é não se sentir bem e frustrada com uma coisa que fazemos e não gostamos.


O engraçado é que comecei com um assunto super aleatório e que agora estou aqui escrevendo sobre universidade. Poxa, são em momentos assim que eu percebo que ainda tenho tanta coisa que eu queria compartilhar com você. Você não sabia, porém eu estava enfrentando meu passado nos últimos meses, porque eu queria sentar um dia enquanto estivéssemos à toa e te contar parte por parte como se fôssemos protagonistas de uma série. Uma série que sempre teria um novo capítulo. Uma série que também teria reviravoltas. Uma série que envolveria um romance real de duas pessoas que realmente se gostavam. Bom, se isso vai acontecer ainda, não sabemos. Todavia, enquanto não acontece ou enquanto uma nova temporada não se inicia, estou no chão da sala escrevendo essas cartas para você. Não sei se um dia elas serão lidas ou entregues para você, mas, como já disse uma vez, elas estão sendo meu conforto por enquanto e puts... que saudade eu tinha de escrever!


Após o meu desabafo, vamos voltar ao que estávamos falando: as nossas escolhas. Sei que não foi você que escolheu o seu curso. Sei que você pode estar se sentindo perdido agora. Sei que deve ser muito confuso lidar com isso e imaginar o que você fará amanhã com um diploma na mão. Já senti isso, já vivi isso e já tive as mesmas frustrações. No entanto, se tem algo que descobri nos últimos anos, é que nós nunca devemos deixar de lutar pelos seus sonhos, meu bem. Temos que nos em primeiro lugar. Temos que acreditar em nós mesmos. Sempre acreditei e sempre tentei te mostrar do que você era capaz, porém entendo perfeitamente o que você está passando e sei como é complicado. A maioria dos pais coloca uma pressão absurda em cima de nós e acaba ditando o que devemos ou não fazer, todavia, quem sabe o que te faz bem, feliz e realizado é você, não eles.


Não estou falando para você fazer uma revolta dentro de casa. Não estou falando para você confrontar seus pais. Não estou falando que eles são os vilões dessa história. Contudo, às vezes temos que reconhecer que nem sempre eles sabem o que é melhor para nós apesar do amor que eles sentem. Sou extremamente grata pelos meus pais terem me deixado tomar minhas próprias decisões quanto ao curso que eu iria fazer, todavia, nem sempre foi assim. Eles ainda falam muito na minha cabeça. Eles ainda querem passar muito na minha frente em várias situações. Eles ainda tentam me proteger ou me restringir quando podem. É complicado, mas não podemos abrir mão da nossa autonomia ou da nossa oportunidade de tomada de decisão por conta disso. No final de tudo, seremos nós que passaremos horas e horas estudando, seremos nós que passaremos horas e horas trabalhando, seremos nós que fazemos a nossa carreira assim como eles fizeram a deles quando puderam.


Não nego que ainda tenho esperanças de me tornar uma escritora ou uma diretora de fotografia famosa, entretanto, também sou de acreditar nos sinais e nas oportunidades que a vida nos dá de vez em quando. Às vezes é difícil aceitar o rumo que nossa vida está tomando e questionamos, até mesmo, as entidades existentes. Mas, por favor, nunca deixe de acreditar em você, de escolher você em primeiro lugar e de correr atrás do que você realmente quer e precisa em uma determinada fase da sua vida. Doeu e ainda dói muito ver você ficando mal por conta disso e por causa de outros assuntos. Mesmo que você não leia essa carta algum dia, depositarei aqui todo o meu amor por você e toda a minha expectativa que essa só será uma temporada onde os protagonistas precisaram se separar temporariamente.


Inclusive, isso me lembrou um livro que eu li e que me deixou arrasada após a separação de dois personagens que eu amava muito. Ai ai ai... eu e minhas manias de achar que tudo se resume em séries e filmes... já te contei que ainda me lembro quando te apresentei o meu filme favorito e você o ignorou completamente? Ai, meu bem, eu morro de rir de só pensar... sério. Ah! Antes que eu me esqueça, vou explicar o porquê acordei querendo escrever para você. Como eu disse no início dessa carta, os meus sonhos foram intensos nessa última noite e a única coisa que eu me lembro era que estávamos deitados em um gramado em um dia lindo e bem ensolarado. Parecia o Parque das Mangabeiras aquele dia que tentamos fazer um piquenique. De repente, o céu escureceu, eu olhei para você enquanto você segurava minha mão com força e dizia "se é que temos apenas um mês, vamos viver ele com intensidade, Emilly, por favor. eu não quero imaginar o que será de nós quando você se for".


Isso cortou o meu coração, porque, como eu também disse em uma das minhas cartas passada, eu estou longe de ter uma certeza que vou viajar e me dói imaginar que talvez eu tenha aberto mão de você por nada. Desse modo, acordei igual aquelas cenas de filme mesmo quando a protagonista tem um choque de realidade. Parece loucura, mas muita coisa mudou dentro de mim quando eu abri os meus olhos (tanto literalmente quanto poeticamente). Pensei seriamente em te ligar e ir até você nesse domingo de manhã. Contudo, eu não sei se você acreditaria em mim, ou se acharia que só tive uma recaída. Tenho certeza que não foi e por isso, abri o computador e estou aqui escrevendo outra carta para você. Não sei se vou parar amanhã, depois de amanhã, ou daqui um mês. Essa é claramente uma pergunta para qual eu não tenho resposta.


(soltei um longo suspiro agora e adivinha só? minhas lágrimas voltaram, porém, acredite quando eu falo, estou feliz de ter compartilhado isso tudo com você).


Enfim... reitero que ainda há muito o que escrever para você e, nesse exato instante, acredito que vejo você em breve, tá bom?


Ainda amo você. Ainda sou apaixonada por você. Ainda estou aqui se você precisar de mim.


Com muito amor e muito carinho,

Emilly Emanuelle Guidi Ribeiro

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