Postagens populares

As pessoas realmente se importam.

20 de novembro de 2021


Há tempos, penso em voltar a escrever. Há tempos, sufoco meu lado artístico por receio de me arrepender de ter largado o curso de comunicação. Há tempos, tenho guardado meus pensamentos só para mim. Eu não tinha percepção do quanto sentia falta de me escolher em primeiro lugar, de correr atrás do que sempre quis, de realizar os meus sonhos mais ocultos. Cresci inserida em ciclos de pessoas que aplaudiam a racionalidade e diziam que as minhas lágrimas simbolizavam sinal de fraqueza. Ouvi inúmeras vezes que meu lado sensível atrapalharia muito as minhas escolhas mesmo sabendo que ser sensível não significa ser emotiva. Ser sensível é olhar para uma situação que te incomoda e enfrentar aquilo, é entender quando uma amiga te liga desesperada e precisando de ajuda, é olhar para a pessoa na sua frente e visualizar que, apesar de diferentes, vocês continuam sendo seres humanos com pontos fortes e fracos.

(e talvez nem eu)


No entanto, não se enganem e escutem quando digo que também sei ser extremamente egoísta e cruel, sei agir exclusivamente pela razão e sei virar as costas quando não me identifico mais com o lugar que ocupo. Já me submeti demais a situações nas quais eu não deveria passar nem perto e hoje não faço isso mais apesar de querer em alguns momentos por gostar demais de uma pessoa. É complicado. Temos uma sociedade que nos cobra padrões de comportamento ideais, corpos ideais, falas ideais. Mas, onde está o verdadeiro sentimento de preocupação em atender as demandas sociais? Normalmente somos criados em meios competitivos, onde um irmão precisa competir com o outro e ser o melhor da família, o orgulho, o próspero. Mas, onde estão os sentimentos de inclusão, conforto e segurança? Somos inseridos em sistemas de aprendizado que nos fazem duvidar das nossas próprias capacidades e habilidades, porque determinadas são mais valorizadas e exigidas, até mesmo, pelo mercado. Mas, onde estão os sentimentos de liberdade, igualdade e fraternidade?


Não sou de escrever sobre momentos que estou passando, porque sempre gosto de analisá-los com mais cautela e de realmente enxergar o que posso ter feito e onde posso ter errado. Acredito que a vida seja isso. Errar, aprender e tentar ser sua melhor versão todos os dias. É realmente difícil parar para falar sobre o que se passa na minha mente, porque, em alguns momentos, nem eu entendo para ser sincera. Contudo, ultimamente tenho tentado falar mais sobre os meus problemas, as minhas inseguranças e os meus posicionamentos com pouquíssimas pessoas ao meu redor. E, adivinha? Tenho me surpreendido, porque jamais esperaria que alguém gostaria de me ouvir e me daria apoio. Tenho encontrado conforto e forças em outros lugares enquanto me recupero, assim como foi no final de 2019, onde todas as minhas amizades me deram um pedaço do próprio coração enquanto eu sofria por terem quebrado o meu.


Sabe o que realmente me surpreende? O fato das pessoas se importarem comigo e de dizerem que sentem falta quando eu não chego gritando toda animada ou fazendo uma piada estúpida. Poucas me viram chorar nos últimos anos e por isso, colocaram na cabeça que sou praticamente invencível e que sou eu quem normalmente presta suporte. Entretanto, algumas notaram a diferença nos meus olhos, outras me escutaram e prestaram atenção enquanto eu contava durante alguma conversa aleatória e quase todas vieram até mim mesmo que eu tenha pedido um espaço e um tempo para respirar. Penso que os anos nos quais eu me sentia excluída finalmente ficaram para trás e que eu não preciso temer a solidão. Quando precisei e decidi colocar para fora, todas essas pessoas me ouviram, contaram suas próprias histórias sem finais felizes e me deram muitos conselhos.


O motivo de eu escrever este texto não é à toa, nem bobo e nem efêmero. No dia de hoje, em particular, um episódio me marcou muito e por essa razão, quero registrá-lo, pois ele não é um momento qualquer que se tornará somente uma das inúmeras lembranças que tenho. Todos os sábados dos últimos meses na parte da manhã, tenho tido francês com uma professora incrível que tenho a chance de conhecer um pouco mais. Enquanto estávamos tendo nossa aula, falávamos de coisas aleatórias até que ela me perguntou como eu estava me sentindo. Hesitei. Respirei fundo. Pensei se eu deveria falar e quando me dei conta, eu falei a verdade. Não estou cem por cento, mas estou vivendo um dia de cada vez como me aconselharam e admito que estou até feliz das pequenas conquistas que tenho tido apesar de não ter comemorado o suficiente. Continuamos nossa aula até que soltei tudo e ela me disse que sentia muito e que ficava chateada por mim. "Não fique, porque nem eu sei se eu se realmente me importo, ou se realmente sinto algo".


De repente, ela começou a falar tanta coisa comigo. Tanta coisa que ficará dentro do meu coração. Tanta coisa que me possibilitou estar mais perto. Tanta coisa que me fez entender que eu não me conecto com certas pessoas por acaso. Tanta que despertou um sentimento inexplicável e imensurável dentro de mim. Não sei o que é. Ou ainda não sei. Ela continuou a falar quando, em algum instante, soltou que sentiu que eu era especial desde quando nossas aulas começaram, que me admirava não apenas pela minha dedicação, mas pela forma como eu transmitia luz e que levava a vida com leveza. Isso é verdade. De um tempo para cá, minhas preocupações tem mudado, porém o meu jeito de lidar com elas não. Grande parte delas são momentâneas, porque mudamos com o decorrer dos dias. Atualmente, vejo tudo que já tive que passar e aprender a lidar com certo orgulho, pois você só compreende melhor determinadas questões conforme vai crescendo.


Enquanto eu me perdia nos meus devaneios, percebi que ela chorava e se emocionava ao falar comigo. Nunca dei tanto valor para isso, principalmente porque ultimamente reparei que demonstrar vulnerabilidade é algo que as pessoas detestam, no entanto, para mim e para ela, é uma maneira de se conectar genuinamente com as pessoas. Estou em um momento onde eu fico pensando sobre o quanto sou totalmente genuína quando falo e quando demonstro para as outras pessoas que me importo, que estou aqui e que gosto. Sei lá, não sou aquela pessoa que diz as coisas da boca para fora só porque está passando por isso ou aquilo. Digo, pois sou verdadeira e me preocupo com o rumo que determinadas coisas estão tomando e com ações específicas.


Reflito todo dia sobre a facilidade que temos para excluir uma pessoa da nossa vida com um clique e sobre como estamos aprendendo a lidar (ou não) com os sentimentos que a vida nos proporciona. Sei lá, que loucura. Não me arrependo de ser uma pessoa que demonstra vulnerabilidades e que expressa o quanto se importa e ama as demais, porque, no final do dia, esses joguinhos de orgulho e ego não me levam a nada. Por isso, ao voltar para o mundo real novamente, observei que minha professora chorava tanto que não consegui não me comover. Ouvi atentamente suas histórias de vida e seu pedido de desculpas, contudo, qual era o problema? Todos nós precisamos colocar as coisas para fora e eu, particularmente, sou uma ótima ouvinte.


Por fim, as palavras que vieram a seguir me chocaram e me pegaram desprevenida. Ela olhou bem para a tela do computador e é como se tudo atingisse a minha alma. “Eu vejo luz dentro de você, Emilly! Pelo amor de Deus, não faça isso com a sua vida! Não deixe de lutar pelo o que você acredita! Não se anule por conta de ninguém! Não deixe de investir naquilo que você planta hoje! Você é tão incrível, menina! Eu admiro tanto você, sua força, seu jeito, sua inteligência. Emilly, pelo amor de Deus, se dê o devido valor! Você é uma pessoa tão maravilhosa! Você é franca! Com você, pau é pau, pedra é pedra!”. Bom, o contexto não importa, mas sim a conexão que construí ali. Nunca me senti tão querida na vida igual na última semana.


Então, caras amigas e caros amigos, caras pessoas que me cercam, caras pessoas que se importam, caras pessoas que torcem por mim e caras pessoas que, de alguma forma, me mandam energias positivas todos os dias mesmo não falando ou estando próximas de mim, contem comigo! Eu caí, confesso. Eu sofri, eu chorei, eu gritei. Mas, no fundo, eu amei uma pessoa. Estou me levantando aos poucos, os dias têm sido mais tranquilos e estou voltando a acreditar em mim e a comemorar minhas pequenas conquistas. Parece drama, só que tem sido mais rápido do que imaginei, ou eu me acostumei. Dessa forma, se é que posso fazer um pedido, quero que quando eu voltar a brilhar, não deixem de me abraçar, pois fácil não está sendo e talvez nunca será, não é mesmo?


Para você que mandou eu procurar as minhas amigas e os meus amigos já que eu estava com o coração partido outra vez, digo que não precisei. Todas e todos vieram até mim, ou sempre estiveram aqui. Todas e todos estão cuidando de mim, ou nunca deixaram de cuidar apesar da distância. Todas e todos me tratam com carinho, ou eu nunca tinha percebo e agora entendo. Eu fui acolhida, querida e, até mesmo, amada. Ademais, não tenho o porquê te xingar ou competir, porém acho que você não esperava por isso.


(e nem eu...)

Escrito por: Emilly Guidi.

1 Comentário

  1. Lentamente uma lágrima escorreu pelo meu rosto, e é por esse motivo que eu tenho ainda mais certeza que admiro e enalteço a pessoa certa. Sou demasiadamente grata por uma existência tão deslumbrante na minha vida e no mundo.
    Amarei contar aos meus filhos que vivi na mesma época que Emilly Guidi🌻🌻

    ResponderExcluir

 
Desenvolvido por Michelly Melo.