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Eu nunca gostei de despedidas.

22 de agosto de 2020


Nunca gostei de despedidas. Nunca gostei da sensação de ter alguém indo embora. Nunca gostei da ideia de ter que me separar de alguém, principalmente se aquela pessoa me fazia bem. Dizer “tchau” normalmente têm muitos significados, alguns positivos e outros negativos. Dizer “adeus” corrói a minha alma, porque a palavra já carrega com si um significado forte. Você sabe que nunca mais vai ver aquela pessoa, você sabe que nunca mais vai ter momentos e nem poder criar lembranças com ela. Desistir de alguém nunca foi uma opção que eu cogitei em toda minha vida, porque carrego comigo o pensamento de que as pessoas carregam uma razão e uma história que nem sempre conseguimos compreender com tanta clareza. Todo mundo tem suas fraquezas, seus pontos fracos, seus momentos bons, seus momentos ruins, seus defeitos e suas virtudes. Durante muito tempo, eu fui aquela pessoa que me dedicava demais mesmo sabendo que aquela relação não duraria muito. Isso tudo aconteceu, porque uma vez me falaram que mesmo, que temporariamente, nós temos que tentar deixar uma marca boa na vida das pessoas e não uma ruim. Pessoas ruins vem e vão, deixam sequelas, dores e causam um desequilíbrio enorme, entretanto pessoas boas conseguem nos curar de uma forma e nos fazer perceber certas coisas que não valorizávamos antes.


Eu já fui tóxica, nunca neguei e reconheço que não tem como sermos a nossa melhor versão em todos os momentos possíveis. Existirão momentos em que vamos nos perder em nós mesmos e encontrar um caminho de volta pode ser assustador. A gente vive mudando, evoluindo e crescendo, então o seu eu de hoje provavelmente não gosta do seu eu de seis meses atrás e você pode ter certeza que o seu eu do futuro não vai gostar do seu eu de hoje. Quando paramos para pensar em todos os processos que vivemos e nem percebemos, parece meio louco, contudo conforme atingimos uma certa idade a gente percebe que certas coisas podem ter causado um desastre e ao mesmo tempo podem ter nos ensinado tanto. Eu costumava me perguntar o motivo pelo qual as pessoas insistiam em sair da minha vida e tentava não me abalar, porque acreditava que aquilo tinha um propósito e não era fácil perceber que o erro muitas vezes estava em mim. Também já tive dúvidas sobre os lugares que eu estava e se eu deveria continuar ali, pois certas coisas não faziam sentido e eu me sentia incompleta, uma estranha e, em certos momentos, uma desconhecida.


A minha curiosidade consegue ter seus pontos fortes e seus pontos fracos, gosto de saber sobre tudo no mundo e sobre o propósito das coisas. Normalmente quando uma criança está com seus quatro anos, ela começa a perguntar o porquê de tudo e muitas pessoas não têm paciência para ouvir e muito menos para responder. Eu era uma criança que queria saber e desvendar todos os mistérios, tenho vinte e um anos hoje e continuo tendo essa criança dentro de mim. Todas as vezes que vejo uma criança fazendo inúmeras perguntas, eu gosto de responde-las da melhor maneira possível e despertar ainda mais esse desejo pelas perguntas que nem sempre tem resposta. O lado forte disso tudo é que respostas comuns e superficiais não saciam a minha curiosidade, eu gosto de sentir as coisas que não são ditas, interpretar as palavras não escritas e compreender aquilo que não pode ser sentido. Isso me fez notar que a gente sempre se preocupa com outro e que isso pode ser uma vantagem, porque podemos passar a ter um olhar mais sensível para algo, oferecendo um abraço amigo sincero que tem estado tanto em falta.


O lado fraco está associado para aquelas perguntas que normalmente você não está pronto para saber a resposta, se é que tem uma resposta. Às vezes a minha curiosidade é tanta que eu não consigo deixar uma coisa de lado e quando eu descubro, eu prefiro não ter descoberto. Certos traumas teriam sido evitados em certas feridas teriam sido evitadas de serem abertas. Já percebi muito inclusive que muitas pessoas preferem esconder do que dizer, do que sentir, do que viver. Porém, não as culpo por isso. Todo mundo apresenta um jeito de pensar, de sentir, de agir e de ser. Não cabe a mim ou a você julgar qual “o melhor” jeito. Não cabe a mim ou a você julgar alguém. Não cabe a mim ou a você impor nada. Contudo, cabe a mim e a você compreender e se colocar no lugar do outro, porque determinadas coisas nós nunca vamos viver parar sentir de maneira exata o impacto.


Anos se passaram desde que eu fosse capaz de enxergar que todas as pessoas partiram tiveram motivo para isso e a falta que elas faziam nem sempre era presente. Fui me acostumando a dizer “adeus” sem usar as palavras, a me despedir sem o contato físico e a cortar ciclos sem que o outro percebesse. Não nego que algumas vezes foram dolorosas e quando eu era primeira sentir, essa dor costumava passar de uma maneira rápida e de um jeito que eu nem percebia.


Existem dois tipos de pessoas: aquelas que sentem a partida primeiro, na hora e nos dias seguintes e aquelas que sentem depois, com o passar dos dias, após muito tempo. Eu costumava ser o primeiro tipo de pessoa e não sei quando mudei, a partida das pessoas era algo que doía muito e que me corrompia de um jeito ao ponto de eu me torturar com pensamentos que me condenavam mais do que qualquer juiz. Hoje consigo dizer que até sinto falta de algumas pessoas, entretanto isso não quer dizer que eu quero essas pessoas de volta na minha vida. Passei a acreditar que pessoas são passageiras e que uma hora elas terão que pegar um trem que as levará para a próxima estação e que você não vai ter controle sobre isso, porque a caminhos precisam ser seguidos para que histórias sejam construídas. Você não pode acreditar nas minhas palavras hoje e eu também não estou dizendo que eu estou certa, mas acredito que as minhas palavras fazem sentido pelo menos agora, no momento em que escrevo esse texto. Ninguém tem uma resposta absoluta, nós temos respostas que também são temporárias e que mudam ao longo do tempo com as nossas experiências. Toda hipótese corre o risco de ser refutado para que assim a gente possa produzir conhecimento e chegar perto do que chamamos de realidade.


Dizer adeus para você foi uma coisa que doeu e que eu empurrei com a barriga enquanto eu pude, porque eu particularmente tenho uma dificuldade de me desapegar de certas memórias. Inclusive a minha segunda saga favorita envolve a história de um personagem que me fez entender o peso que memórias podem causar, porém não ter como construí-las é pior do que tê-las. Pessoas que marcaram a minha vida de uma maneira positiva, mas que foram embora de uma maneira dolorosa irão continuar tendo um lugar especial guardado em algum lugar dentro de mim. Não digo que é no coração, porque esse lugar pertence a aqueles que aqui estão. A escolha de partir normalmente é tomada por mim e não adianta haver resistência quando não há como voltar. As suas chances foram dadas e você que não quis aproveitar. O meu lugar já não era mais aqui e uma vez eu ouvi alguém dizer que quando temos dúvidas sobre onde deveríamos estar, é porque está na hora de mudar. Certos lugares não são para nós, certos lugares nunca foram nossos e certos lugares já não nos cabem mais e quando a dúvida bateu, era porque eu e você já tinha dado no que deu e ninguém percebeu.

Escrito por: Emilly Guidi.

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