Amostra grátis do último dia de todos.

Às vezes fico incrédula com a velocidade que a minha vida está passando. Minha mãe sempre diz que eu tenho que aproveitar tudo ao máximo, porque a gente envelhece numa velocidade indescritível. Tenho lembranças do meu primeiro dia no Ensino Médio. Eu cheguei confiante, alegre e com aquele sentimento de “ufa, passei do fundamental”. Sabia que o desconhecido me esperava pelos próximos anos e o único conhecimento que eu tinha eram aqueles que espalhavam por aí. “Ensino Médio é muito puxado”, “acabou a mordomia”, “prepare-se para ralar”, “responsabilidade bateu a porta”. E claro, no meio a tantas frases negativas, eu ouvi um “Ensino Médio serão os três melhores anos da sua vida no colegial, é nele que você se descobre”. É a frase mais verdadeira de todas. O resto é o resto, que entra por um ouvido e sai pelo outro.
Minha primeira aula foi história e ainda acredito que não foi à toa. Logo depois, literatura, química, matemática, física e geografia. Essas memórias são tão frescas na minha cabeça que chega a ser impressionante. A verdade é que eu nem sei o porquê eu comecei a escrever, porém eu sei o que eu quero escrever. 
Uma sensibilidade bateu na minha janela nessa manhã de sexta-feira e quando eu abri para ela entrar, ela tomou conta dos meus olhos e me fez enxergar as coisas de uma forma diferente. Vocês já viram alguém querer chorar por causa da aula de matemática? Por causa do discurso da professora de biologia? Por causa da explicação da professora de química? Por causa da brincadeira do professor de espanhol? Por causa do "bom dia, senhores" do professor de geografia? Ou por causa da boa vontade do professor de física em tirar uma dúvida? Se nunca viram, graças a Deus, porque foi constrangedor! Não, eu não chorei de tristeza como o choro é associado na maioria das vezes. Eu chorei de orgulho por ter os professores que eu tenho e por saber que daqui um mês e pouco, eu terei que me despedir. 
Como dizer tchau para tudo isso? Não estou pronta para dizer adeus para aqueles que contribuíram para a minha formação. Imagina que saco seria não ouvir mais as clássicas frases, que estão gravadas na minha memória, como "difícil em", "é tudo igual", "tranquilo?", "tomar cuidado", "tá, gente?", "para de falar junto comigo", "quem tá multiplicando, passa dividindo", "é só jogar na fórmula", "que que tem para corrigir aí hoje?", "quem está comigo?", "estou falando pra quem?", "psiu", "mais alguma dúvida?", "bom dia, senhores", "ei ei, do jeito que tá, não dá pra ficar". São essas e inúmeras outras frases que marcaram cada um deles, mas não apenas elas, existem gestos específicos para cada um também.
Eu admito que desejei durante cada segundo do meu primeiro bimestre que esse ano passasse muito rápido. Foi egoísmo meu pensar apenas em mim, eu confesso. O mais fascinante na maioria dos seres humanos é reconhecer o erro e mudá-lo para que isso não ocorra mais e é isso que eu tentei fazer durante o meu segundo bimestre. Ok, o cansaço faz parte e o desgaste também, mas aproveitar cada momento intensamente é o que nos torna vivos.
No dia que essa sensibilidade decidiu entrar pela minha janela e me proporcionar uma nova visão, eu senti um pouquinho do último dia de todos e de como eu vou morrer de saudades de tudo, principalmente daqueles que me ajudaram a traçar a minha caminhada até aqui. Se eu pudesse mandar-lhes uma mensagem, eu agradeceria o máximo que eu pudesse e falaria que eles me deixam extremamente orgulhosa pelo trabalho que eles exercem. Ser professor é desafiador nos dias de hoje e eu os admiro muito por isso, por conseguirem ser muito bons no que fazem.
É, como qualquer fase da vida, essa está chegando ao fim, entretanto isso não quer dizer que eu não possa guarda-los num lugar especial ou então mantê-los na minha vida, mesmo que sejam lembranças. Lembranças boas de três anos incríveis que passei me descobrindo e crescendo com a ajuda de profissionais, que, por trás, são pessoas extraordinárias. 
Queridos professores, sei que já enrolei demais, mas obrigada. Obrigada por fazerem parte da minha história e por terem me ajudado a traçar esse caminho, que, no início, parecia impossível. Portanto, com a ajuda de vocês, se tornou mais fácil e muito mais prazeroso. Aliás, quem não adora uma boa companhia?

Emilly Guidi.