Postagens populares

Carta para a Lua ☾ #2

13 de novembro de 2015
Senhora Lua,
Hoje é mais um daqueles dias que eu me sento no quintal e a senhora ouve todos os meus desabafos, os meus choros, os meus pedidos e todas as minhas reclamações e orações.
A cada dia que passa a tristeza se torna parte de mim. Ela fez morada fixa em minha alma. Se tornou um órgão em meu corpo. Ela não vai embora. Se faz presente todos os dias desde o que aconteceu. Se ramificou no meu espírito. 
Todos os dias, antes de dormir, eu o sinto. É como se eu estivesse no lugar dele. A dor. As imagens. Os sentimentos obscuros. Tudo vem ao meu ser. Menos o medo. Não há como ter medo da morte porque ela é inevitável. Ter medo da morte é o mesmo que ter medo do amanhecer ou do escurecer. 
Eu olho para o lado e é como se eu estivesse ao lado dele. O ambiente se torna mais pesado. Os meus olhos se enchem de lágrimas. A dor só aumenta. A culpa se torna presente. O barulho dos aparelhos me irrita. As diversas enfermeiras em movimento parecem nem ligar. A coragem para olhá-lo não existe. Eu sinto a sua dor, eu escuto os seus pensamentos, eu vejo além. Eu não consigo explicar o que toma conta de mim, eu só consigo explicar que é como se eu viajasse até lá para passar um pouco do meu tempo com ele. Mesmo sabendo que não é real.
Ao mesmo tempo, eu me lembro de tudo. De cada momento. De cada lembrança. De cada sentimento. De cada palavra. 
Ele sempre esteve presente independente de tudo. Me abraçava quando eu achava que o mundo ia acabar. Dizia que eu era capaz de enfrentar tudo e que eu era especial. Dizia para ouvi-lo e diversas outras coisas que me ajudavam. Ele me dizia que iria enfrentar o mundo ao meu lado. Me tratava como uma criança indefesa mesmo quando eu não merecia. Ouvia meus choros. Ficava preocupado pelos motivos mais bobos do mundo. Cantava comigo a minha música favorita mesmo já enjoado dela. Me conhecia melhor que ninguém. 
Eu nunca mereci o amor que ele me deu, o jeito que cuidou de mim, o jeito no qual me olhava com felicidade, as diversas frases de inventivo que me falava, os diversos abraços que me faziam esquecer todos os problemas que eu tenho, sim, eu reconheço que nunca mereci nem um por cento do que algumas pessoas fizeram e fazem por mim, principalmente ele. 
Sinto que essas sensações todas que sinto é um jeito de me comunicar com ele. São últimos contatos, por isso eu aproveito para falar tudo que eu sinto. 
Torço para ver aquele sorriso mais meigo do mundo novamente, torço para poder abraçá-lo de novo e torço para poder dizer tudo que eu nunca disse direito. Claro que ele merece um lugar melhor e eu sei muito bem disso. Só que, a gente só dá valor para as pessoas quando nosso tempo com elas se reduz ou é esgotado. Eu sinto muito por nunca ter sido a pessoa mais amorosa do mundo, mais carinhosa e mais flexível que muitos conheceram. Aliás, eu quero que ele me perdoe por isso. 
Sei que parece egoísta, mas eu só quero que ele volte para casa. Eu estarei esperando por ele na porta da frente com esperanças de poder abraçá-lo de novo. Estarei torcendo por ele. Estarei esperando o dia que o verei tão bem quando eu sempre falei e torci para isso. Estarei desejando que ele seja tão forte quanto me ensinou a ser com os seus conhecimentos. 
Mas agora eu só peço uma coisa: que ele volte para casa, por favor.
Emilly Guidi.

1 Comentário

  1. Mas gente, um blog de escritor como o meu ❤ (difícil de se encontrar)
    O texto foi lindo e emocionante, querida. Parabéns.

    ResponderExcluir

 
Desenvolvido por Michelly Melo.