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Sobre as escolhas que fizemos.

4 de março de 2025

 


Acredito que todo mundo já quis ser alguém diferente do que é hoje em algum momento da vida. Repensar as nossas escolhas requer muita força ao meu ver e uma certa resiliência, porque não é todo dia que a gente reconhece que poderia ter feito diferente e se questiona onde poderia estar caso tivesse escolhido X ao invés de Y em uma data Z. Algo dentro de mim diz que existem diferentes versões minhas espalhadas por aí em determinado lugar e talvez os acasos da vida consigam explicar isso de certa forma. Esbarrar com pessoas tão parecidas conosco e se identificar, mesmo que seja por um período, é algo surreal. Podem dizer o quanto quiserem que o acaso é apenas o acaso, no entanto, não consigo acreditar que as coisas são totalmente aleatórias e não tem um propósito mesmo que entendamos depois. Cara leitora e/ou caro leitor, talvez os delírios da minha cabeça estejam começando a querer sair e se eu parecer louca até o final do texto... não se espante, é apenas o meu jeito.


Escuto com frequência minha mãe dizer que pensar nas outras possibilidades de escolhas que tivemos ao longo da vida é perda de tempo já que elas não vão acontecer. Elas são passado e devemos enterrá-las visto que elas não se tornarão reais. Não concordo totalmente com essa visão até porque dependendo do que escolhemos, a nossa vida toma um rumo diferente e consequentemente isso afeta a nossa versão presente. Às vezes é um giro de 180º. Às vezes é um giro de 5º. Não tem como saber ou prever quais as consequências que enfrentaremos ao optarmos por um novo caminho. Quase ninguém comenta sobre as mudanças sutis que vivenciamos no dia a dia, apenas da mudança que presenciaremos daqui um médio ou longo prazo. Digo que isso nada mais é do que a vida acontecendo. Afinal, podemos culpá-la por ela não parar quando enfrentamos um dilema ou uma fase sensível? Ou será que o segredo está na forma como classificamos as fases que vamos ter incansavelmente ao longo da nossa existência?

(posso começar várias reflexões aqui e facilmente ir parar na frente da cadeira de um psiquiatra caso queira)


Bom, essa reflexão se iniciou no último domingo à noite quando me preparei para ver a cerimônia do Oscar e acreditei fielmente que a Fernanda Torres sairia vitoriosa. Ela estava deslumbrante. O vestido era de tirar o fôlego. O sorriso era indisfarçável. O brilho nos olhos era fantástico. A chance de o Brasil ganhar um Oscar era real. Uma parte dentro de mim gostaria de estar lá recebendo os prestígios de tamanha oportunidade. Não estamos falando de algo simples aqui. Poucas pessoas sabem, todavia, ser cineasta era meu maior sonho e eu carregava comigo uma vontade absurda de fazer dar certo. A possibilidade de ver meu nome subir nos créditos era algo que fazia meu coração bater mais forte. Ser reconhecida e prestigiada pelo meu talento era algo que me fazia chorar de emoção. Ensaiei distintos discursos na frente do espelho ao longo de cinco anos, desejando o dia no qual eu levaria um Oscar para casa. Mas, se você acredita que eu realizei esse sonho, você está muito enganada(o). Na verdade, estou bem longe disso e vou te falar o porquê.

(spoiler: não levamos os três, apenas um. É logico que estou revoltada, mas não é o foco desse texto. Quem sabe em um próximo...)


Aos dezessete anos, prestei o vestibular de uma universidade privada para o curso de Cinema & Audiovisual e passei. Comemorei como se não tivesse amanhã e carreguei comigo a certeza de que aquela era a oportunidade que esperei ao longo da vida inteira. Eu estava decidida que seguiria meu maior sonho e que conquistava diversos prêmios para o Brasil. Coitada... eu mal sabia da realidade e da forma na qual as latinas americanas como eu eram vistas pelo mundo. Muito menos sabia como elas eram tratadas. Porém, deixaram a criança sonhar e não a limitaram em nenhum momento. Pelo contrário, contei com o apoio dos meus familiares, mesmo sabendo que eles achavam que era um sonho distante e insano. Convenci meus pais a investirem em mim durante quatro anos e montei um plano perfeito até então. Eu revolucionaria o mercado cinematográfico nacional, seria motivo de orgulho dos meus pais, produziria filmes e séries que deixaram qualquer um de boca aberta. Entretanto, as coisas não demoraram a mudar e quando me dei conta, trancar o curso era um dos maiores alívios que eu tive na vida.

(não vou contar os spoilers ainda, segure-se na cadeira que ainda tem muita água para rolar)


Voltando à cerimônia do Oscar, não consegui tirar os olhos da tela. Até então, evitava acompanhar esse tipo de premiação por achar que a grande maioria seria tendenciosa e que o poder não estava na mão do povo, pois se estivesse... teríamos ganhado as três categorias nos quais fomos indicados. Inclusive, a ideia de os premiados não serem eleitos pelo público não entra na minha cabeça e o fato de existir uma concentração na mão de poucos me incomoda ao ponto de eu não conseguir me manter sentada por muito tempo. Quem é que pode decretar o que é arte ou não? Quem é que pode fazer a lista de indicados e depois votar em opções restritas? Quem é que decide e por que decide da forma como decide? Esse tipo de coisa arde dentro de mim e não é à toa que demonstro inquietude diante de coisas que não posso controlar e sei que a opinião popular está longe de ser considerada. É algo que vem de dentro, uma vontade de gritar que não sei mesmo de onde surge. Isso me conecta com vários momentos da minha vida onde não me senti ouvida ou validada apesar de ser a que mais poderia contribuir.


Na minha perspectiva, a arte não é para ser limitada ou rotulada, pois ela é a forma como as pessoas podem demonstrar uma parte interna de si. Ela pode ser obscura assim como pode ser encantadora. Depende de quem produz, de quem vê e de consequentemente quem aprecia. Não tem o porquê haver limitações e infelizmente muitas pessoas ainda ficarão de fora por não serem consideradas “dentro do padrão” ou “dentro do esperado”. Essa questão só reforça a desigualdade que vejo no mundo e isso me incomoda muito, porque acredite quando digo que não importa o quão talentoso você possa ser... importa é quem você conhece e quem pode te ajudar a chegar lá. Contudo, sempre tem um preço e eu não estava disposta a pagá-lo nem no passado, nem hoje e muito menos no futuro.


Digo isso também, uma vez que, ao longo da graduação de Cinema & Audiovisual, tive minhas dúvidas e ignorei todos os comentários que pude, evitando assim me envolver com determinadas pessoas que me conectassem a esse universo. Quando decidi trancar o curso, a decisão estava na minha cara até porque não aguentava mais pessoas cagando regra do que seria considerado arte ou não. Se uma coisa não é apreciada por você, isso não significa que ela pode ser descartada ou que é um trabalho perdido. A diversidade existe e precisa ser preservada. Sei que é difícil em alguns casos e já vimos esse discurso por aí em diversos aspectos, não obstante limitar o potencial das pessoas é absurdo. E olha... fiz apenas seis meses de curso para sentir que aquilo não era para mim e que não seria mais a minha escolha profissional que tanto romantizei desde os doze anos.


Não pense que foram apenas coisas ruins. Não, longe disso. Os seis meses de curso foram o suficiente para transformar a minha vida ao ponto de eu entender que esse universo não era para mim. Então, o que quero transmitir aqui é que as coisas mudaram e uma simples cerimônia foi capaz de acender em mim uma vontade de saber o que teria sido da minha vida caso eu não tivesse escolhido um outro rumo. Será que eu teria a chance de estar lá sendo indicada e concorrendo a um prêmio? Será que eu ainda moraria em Belo Horizonte na casa dos meus pais? Será que eu teria tido a chance de conhecer as pessoas que conheço hoje e me transformado na minha versão atual? Será que eu teria feito meu intercâmbio e me descoberto? Será que o meu propósito de vida seria esse mesmo que encontrei há um tempo? Bom, essas são perguntas que não saberei responder por mais que o tempo passe, pois... não foi o caminho que escolhi e está tudo bem. Não tenho remorso quanto a isso e nem quero ter. Estou em paz com a minha decisão e isso é o que importa para mim.


O meu ponto aqui é que essa reflexão não se limita apenas ao meu lado profissional, ela se expande para outras áreas, onde diversos questionamentos surgem. Não vou me estender sobre, porque isso com certeza será parte do meu caderno terapêutico um dia. No entanto, tais perguntas não são tão fortes ao ponto de me deixa paranoica ou arrependida de onde estou hoje. Ainda sinto que há muito chão pela frente e se você quer saber uma coisa legal: aos quinze anos, eu conquistei meu primeiro “Oscar” quando minha irmã inventou a categoria de “maior blog”. Naquela época, não dei muito valor e, hoje aos vinte e cinco anos, percebo que esse prêmio, que guardo com muito carinho e muito afeto, foi o mais especial e o mais cheio de amor que recebi na minha vida. Não quero outro, pois ele já é o suficiente e significa mais do que eu poderia querer.


A vida nas telas me encantou por anos e sou grata por ter deixado um lado meu sonhar, assim como sou grata por ter me permitido errar e começar tudo de novo. Foi complexo, intenso e difícil, não tenho como negar. Pode ser que eu volte para esse caminho um dia e eu espero que você esteja por aqui para ver, ou procure meu nome apenas por conta da curiosidade no Google e me encontre por aqui daqui uns anos. Fiquei anos sem postar e, por enquanto, sinto que voltarei gradativamente dentro do possível. Nunca se sabe o que o futuro reserva para gente e também não serei a pessoa ansiosa que se preocupará mais em tentar descobrir do que viver o presente. Desculpa. Essa fase minha já passou há um tempinho.


Por fim, digo com tranquilidade que está tudo bem começar de novo, errar e se pegar sonhando com o que poderia ter acontecido de vez em quando. Faremos isso várias vezes na vida e não há problema nenhum nisso. A questão é só não deixar isso tomar conta da nossa cabeça ao ponto de nos vermos paradas no tempo, alimentando ideias que não fazem sentido e que não podemos controlar. Cinema & Audiovisual sempre terá um espaço no meu coração, mas, no momento, as Relações Internacionais são o que me movem. Se um dia isso mudar novamente, está tudo bem. Não tem certo ou errado. Tem aquilo que faz sentido para a gente no momento atual de vida que estamos. Viver esses momentos é mais importante do que se perder em remorsos que não estão sob o seu controle.


Queria terminar esse texto de um jeito melhor. Ele está longe de ser o meu melhor texto, só que eu gosto dele assim (por enquanto) e é isso.


Vejo você numa próxima!


EEGR.

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