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Danos colaterais.

23 de fevereiro de 2025

Começar esse texto me toca em uma parte muito sensível, porque não quero parecer mal agradecida ou displicente ao falar desta pessoa. Pelo contrário, sinto dentro de mim que grande parte do que sou é por conta do amor que recebi dela. Não consigo sentir na pele o que significa abrir mão da minha carreira e praticamente da minha vida para doar o que eu tiver a um outro indivíduo. Isso nem entra na minha cabeça para ser totalmente honesta, no entanto, sei que essa pessoa fez isso não só por mim. Exerço a empatia até onde consigo, só que e quando ela se torna sinônimo de sacrífico ou dor? E quando ser compreensiva demais te faz pagar um preço tão alto ao ponto da sua saúde mental visitar o infinito e o além? E quando o desejo de salvar mais ao outro do que a mim mesma caso eu estivesse na mesma situação se torna enorme ao ponto de eu não conseguir e nem querer mais carregar? As coisas começam a complicar e não estou imune ou blindada de nada.


(sinto muito em dizer, porém se cheguei até aqui foi porque não soube colocar os limites certos nos momentos certos)


Meu amor por essa pessoa é algo profundo, intenso e, até mesmo, cego. Em alguns momentos, me pego pensando em como desenvolvi tamanho sentimento e uma vontade absurda de protegê-la do mundo sendo que ela tem mais tempo aqui do que eu. Em outros, me cobro o suficiente para tomar para mim as dores dela e me manter de pé ao seu lado até que seus olhos pisquem pela última vez. Nos demais, me questiono o porquê ainda não consegui romper o vínculo (não por completo) e continuo estando por perto sendo que se torna doentio e tóxico. Não é tão ruim, porém quando é, é ruim para caramba. É algo que sufoca, que me faz querer desaparecer e que me dá esperanças de visitar o outro plano mais cedo sendo que tenho apenas vinte e cinco anos.


Coloco uma pressão enorme nos meus ombros para ver a felicidade de muitas pessoas, contudo, a pessoa em questão está acima de qualquer outra coisa. Sim, sei que relações humanas são complicadas e estão sujeitas aos altos e baixos, só que não deixo de me culpar por todos os baixos que essa pessoa enfrenta e me pergunto se não fui eu a causadora disso tudo quando nasci em noventa e nove. Poderia ter sido diferente? Se sim, como? O que aconteceria se essa decisão não tivesse sido tomada? Eu poderia existir e ao mesmo tempo não ter causado ou causar, de maneira indireta ou não, a maior tristeza na vida dessa pessoa? Eu sou alguma espécie de problema que precisa ser eliminado para o mais longe possível? A culpa é toda minha ou tento puxá-la para mim a fim de me sentir um pouco melhor já que estraguei as coisas quando nem sequer tinha consciência do que me torna um ser humano? São tantos questionamentos incessáveis. São tantas cobranças pesadas. São tantas dores incuráveis.


Não sinto que causei só destruição ou que sou algum tipo de fardo. Às vezes escutei isso uma vez ou outra por aí e fingi que não a fim de evitar conflitos. Às vezes exigiram que eu fosse de uma determinada forma e levanto a mão para o céu quando vejo que venho honrando minha essência. Às vezes a tristeza bate, como é o caso de hoje, e entro em desespero por acreditar que não sou boa o suficiente para alguém. Por mais seca que eu seja (e isso tem motivos), percebo que eu causo o acolhimento de certa maneira e isso não necessariamente precisa ser com o toque. Ademais, também noto que me esforço (até demais) para cumprir bem o papel que ocupo e que faço até demais ao ponto da outra parte não saber a hora de parar de pedir. Com pouca idade, as minhas responsabilidades já eram grandes para costas tão delicadas. Claro que não se compara ao sustento de uma família (não naquele momento e nem no que escrevo) ou qualquer coisa do tipo. Não me entenda mal, estou querendo dizer que as preocupações surgiram muito cedo, me constrangendo ao ponto de eu não querer viver certas coisas ou de não querer sair da caixa na qual me colocaram ainda tão jovem. Quando eu parava (e ainda paro) para pensar que o meu futuro pode estar mais próximo do que imagino, minha cabeça se perde em um local mais escuro que o buraco negro que tanto comentam.


Desde quando eu deveria impor limites? Desde quando acomodei tal pessoa deste jeito? De fato, será que a acomodei assim? Se sim, por que? Existe alguma resposta quanto a isso que me trará paz em algum momento da minha vida? Às vezes me coloco contra a parede para exercer a pressão de que preciso saber de tudo e preciso dar conta de tudo. No último texto que escrevi, comento sobre. Afinal, cheguei no limite. Estou cansada de sofrer as consequências do que não controlo e sei que estou longe de vivenciar o último ciclo no qual isso acontece. Todos nós impactamos a vida um dos outros, mesmo sem saber e sem querer. Isso é coisa séria e, ao mesmo tempo, não podemos exigir tanto de nós mesmos. Sei que tentamos acertar quando tomamos decisões, entretanto, não paro de me perguntar onde foi que errei sendo que nem sequer pedi para vir a este mundo! 


Carrego comigo um fardo que claramente não é meu. Tenho deixado as coisas tomarem uma dimensão intensa. Fico sem dormir ao pensar em problemas que não são meus, mas que talvez tenha sido eu que causei. Rezo a fim de pedir que tudo isso passe e que as pessoas entendam que é só uma fase. No caso dessa pessoa, não tenho muito o que dizer, porque nem eu a entendo apesar dos anos de convivência. Já tentei entender, já tentei aprender a lidar. Não consegui. Já cedi, já implorei, já tentei conversar, já tentei defendi. Isso só me desgastou e plantou mais coisas na minha cabeça. São épocas diferentes. São pessoas distintas. São gerações quase que opostas. Sim, pessoas brigam, se desentendem, falam palavras que deveriam ter ficado guardadas na boca. Todavia, eu me sinto a pior pessoa do mundo ao deixar a situação chegar onde chegou. É como se eu fosse culpada de tudo e causasse o caos por onde passasse.


Ao vê-la realizar mais um sonho, me entreguei de alma a fim de ajudá-la visto que os primeiros meses foram difíceis. Deixei evidente que seria temporário, porque também afetava a minha vida. Fiz tudo por amor, jamais por dinheiro. O valor das minhas ações era muito mais significativo, pelo menos ao meu ver. Era para ser companhia, apoio, aconchego. Os efeitos foram colaterais e totalmente opostos. Eram olheiras, dores excessivas em partes aleatórias do corpo, perda da vontade de viver, isolamento, choros no banheiro enquanto a água caia lentamente na minha pele toda áspera. O final de semana a mais se tornaram dois, que depois se tornaram mais dois e depois mais dois. Quase cinco meses se passaram e quando olho ao meu redor, a minha vida parou. Não estudo, não saio, não falo com amigos, não me sinto bem, não estou rendendo nada ou indo atrás dos meus sonhos. Um furacão passou aqui e destruiu o que demorei anos para construir. Entro em desespero só de pensar que meu futuro está comprometido. O futuro no qual poderá garantir uma boa condição não só para mim. Quando penso no meu futuro, minha preocupação não sou eu, mas sim como conseguirei garantir boas condições para pessoas que me cercam.


Meus olhos enchem de lágrimas só de pensar em carregar o título de fracassada da família, pois sei que muitos acreditam que eu já sou, inclusive. Além disso, escutei diversas vezes que sou o problema na maioria das relações que cultivo. Ela dá com uma mão e toma com a outra. Diz ter orgulho e também diz estar decepcionada com quem venho me tornando. Pergunta o porquê gasto com psicóloga sendo que “não mudo”. Pergunta o porquê faço aulas de idioma sendo que continuo nos mesmos níveis. Pergunta o porquê não tenho um doutorado estampado na parede. Pergunta o porquê ainda moro onde moro e diz o tempo todo que sou perda de tempo. No final das contas, o dinheiro investido em mim foi alto e preciso “dar retorno”. Retorno para quem? Acharam que estavam colocando dinheiro em um fundo de investimento? Pensaram que estariam investindo em uma geração de super humanos? Tomaram tal decisão a fim de garantir que alguém os sustentaria no futuro? 


São tantos pensamentos obscuros que me sinto sufocada ao ponto de perder o ar. Minha cabeça gira como se vivesse dentro do inferno e sentisse o fogo queimar tudo que ainda resta de mim aos poucos. Tem sido muito pesado. Não posso falar sobre, não posso conversar com ninguém, não posso ter um momento de descanso. É só cobrança, cobrança, cobrança. Não vejo tais comportamentos sendo replicados, demando respostas e só sabem falar que é por conta do “meu jeito”. Que jeito? Sou aquela que nunca deu trabalho, que nunca teve a oportunidade de viver a fase que estava, que nunca pode expressar suas opiniões sem ser chamada de sem educação ou de grossa. Ninguém está mesmo satisfeito. Relações humanas podem ser conturbadas, não obstante não pedi para nascer ou para impactar a vida de ninguém. Não é a mesma medida. Admiro a outra por saber impor seus limites e por não se deixar afetar por problemas que não são dela. Confesso que gostaria de ser assim, só que também tenho medo do abandono. Se nem eles me aceitarão caso eu vacile, quem é que faria isso?


O sol bate na minha cortina todos os dias e quando percebo que é hora de levantar, meus pensamentos começam a me perturbar e fico esperando até o momento no qual o dia se tornará perdido e fracassado. Esta palavra me assombra. Evito dizê-la e tenho receio de o Universo achar que estou querendo isso para mim. É aquele tipo de pavor que revira o estômago, causa pânico e leva o ser humano à loucura. Falo sobre isso com a psicóloga e por mais que a vida tente me mostrar que estou no caminho certo, algo dentro de mim está sempre sob alerta. Não posso perder o controle. Não posso errar. Não posso nem sequer pensar em reagir mal ou deixar meus sentimentos me levarem. Estou de volta na caixa. Ou melhor dizendo, sendo direta ao ponto, será que eu já saí dela em algum momento? Sim. O ano era dois mil e vinte e dois. Eu me senti viva pela primeira vez, livre de qualquer amarra. Entretanto, eu ainda era dependente e foi aí que a minha dualidade apareceu. Eu não era apenas Emilly, eu também era Emanuelle.


A sensação era aconchegante e desconfortável ao mesmo tempo. Eu sabia onde encontrar segurança, só que também sabia onde encontrar o desprezo. A caixa me assusta, mesmo que eu conheça cada centímetro dela. É desanimador ver que você nasceu uma estrela e não pode ser uma, porque querem que você seja um quadrado. Eu peço (e às vezes imploro) por espaço e ele só diminui conforme os anos passam. É realmente muito árduo. Encaixar aqui é a mesma coisa do que colocar uma calça dois números abaixo ou um sapato que esmaga todos os seus dedos do pé. É pisar sobre ovos o tempo todo enquanto tento equilibrar todos os pratos, causando o entretenimento de muitos e conquistando o respeito de todos.


Ainda tenho muito a dizer, todavia sinto-me esgotada. Foi ótimo colocar um ponto por enquanto, só que sei que ele virará um ponto e vírgula em breve. Vi minha vida passar diante dos meus olhos por tanto tempo que duvido seriamente que um dia serei protagonista dela. Ao mesmo tempo, me pergunto se não sou desnaturada ao querer espiar o futuro e entender como lidarei com tudo. Será que serei forte o suficiente? Será que darei conta? Será que morrerei de remoso por alguma coisa que fiz ou deixei de fazer? São perguntas que só o tempo responderá. A moral da história aqui consiste em uma remoagem, onde deixo em aberto se eu deveria ter optado por seguir a minha vida e por ignorar aquilo que não era meu, independentemente do quanto fosse chamada de egoísta, ou eu deveria ter optado em ajudar demais, sacrificando a mim mesma e colocando um dos vínculos mais importantes que tenho ainda mais em contato com o desgaste ao ponto de se tornar insustentável como tem sido.


Cara leitora e/ou caro leitor, estou entrando em colapso antes mesmo deste texto terminar. Não sou a melhor pessoa para dizer isso, contudo, sinto que estou perdendo a sanidade aos poucos e não necessariamente causei isso. Vão dizer que sou exagerada ou que estou dramatizando as coisas sendo que a vida “deveria ser ou é tão simples”, então nem fico mais surpresa. Espero que eu esteja numa melhor condição na próxima vez que nos encontrarmos, porque o descanso eterno (ainda) não é algo que almejo visto que sou curiosa o suficiente para continuar insistindo em soprar a minha existência.


EEGR.

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